Na voz de Cid Moreira os nomes e personagens ganhavam status e lugar fixo na memória afetiva das pessoas. Foi assim com o mágico “Mister M”, a bola “Jabulani” e tantos outros, ao serem “apresentados” ao público por esta voz grave, potente e que se negava a falhar. Cid Moreira morreu nesta quinta-feira, dia 3 de outubro, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, aos 97 anos. Desde 4 de setembro ele estava internado por conta de um quadro de insuficiência renal crônica. Cid deixa os filhos Rodrigo e Roger – a primogênita Jaciara morreu em 2020 – e a esposa Fátima Sampaio, com quem viveu por mais de duas décadas. O corpo do apresentador será velado, ainda nesta quinta-feira, no Parque Municipal de Petrópolis, e no fim do dia segue para o Palácio Guanabara, na capital carioca. Na sexta-feira de manhã, segue para Taubaté, em São Paulo, onde ele nasceu e será sepultado.
Em homenagem a Cid Moreira, logo depois do ‘Jornal da Globo’ desta quinta-feira, o ‘Conversa com Bial’ exibe novamente a entrevista feita com o comunicador durante a pandemia. No Globoplay, está disponível para os assinantes o documentário “Boa Noite”, de 2020, dirigido por Clarice Saliby, que traz o dono de uma das vozes mais famosas do Brasil narrando a própria história, abrindo as portas de sua casa. O g1 criou uma página dedicada ao profissional chamada ‘A Voz – 20 vezes em que Cid Moreira narrou a nossa vida’. O especial relembra momentos históricos narrados por ele, destacando seu impacto na comunicação do país, além de uma série de conteúdos interativos, detalhando a sua vida e carreira. Outro destaque é um trilho de vídeos que relembra momentos icônicos, desde a primeira abertura do ‘Jornal Nacional’ com a sua presença, em 1969, passando pela participação emocionante na homenagem à Chapecoense, além de momentos de descontração, como a relação com “Jabulani”, famosa bola da Copa do Mundo de 2010 que ganhou notoriedade no país a partir da forma peculiar de o apresentador chamá-la.
Nascido em 29 de setembro de 1927, Cid formou-se em Contabilidade, mas, por conta de sua voz grave, logo começou a fazer narração de comerciais e locução de noticiários. Quando estreou no ‘Jornal Nacional’, já tinha no currículo experiência em diversas emissoras de rádio e de televisão do país. Depois de passar pela Tupi, TV Globo, Excelsior e Continental, voltou à TV Globo em 1969 para substituir Luís Jatobá no ‘Jornal da Globo’, quando dividiu a bancada com Hilton Gomes. Em setembro do mesmo ano, apresentou a primeira edição do ‘Jornal Nacional’ e permaneceu na função até março de 1996. Em boa parte destes anos todos, esteve ao lado de Sergio Chapelin. A parceria marcou a história jornalismo brasileiro e foi relembrada em abril de 2015, quando os dois voltaram à bancada do ‘JN’ com os atuais apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos, por conta dos 50 anos da Globo. Naquele dia, apresentaram um bloco do telejornal e chamaram o último episódio da série dos “50 Anos de Jornalismo da Globo”, com os acontecimentos mais marcantes de 2005 a 2014.
Em 1996, com a reformulação do ‘JN’, Cid Moreira e Sergio Chapelin foram substituídos por William Bonner e Lilian Witte Fibe. Com isso, Cid passou a se dedicar exclusivamente à leitura de editoriais do ‘JN’. No mesmo ano, foi escalado para fazer as locuções de reportagens especiais para o ‘Fantástico’, programa do qual também participou desde a estreia, revezando com outros apresentadores. Por mais de dez anos, Cid apresentou simultaneamente os dois programas e mais tarde passou a gravar também os áudios das chamadas e de algumas matérias do ‘Fantástico’. Em 1999, narrou o quadro do ilusionista Mister M, um dos grandes sucessos daquele ano. Sua voz ficou de tal forma associada ao quadro que, quando o ilusionista esteve no Brasil, no ano seguinte, Cid Moreira o entrevistou com exclusividade para o programa. A dupla se reencontrou no ano passado para a gravação do terceiro episódio de um documentário especial sobre os 50 anos do ‘Show da Vida’, no que foi uma das últimas aparições públicas do apresentador na televisão.