Mesmo sendo garantido por lei desde 2004, a promoção da acessibilidade em locais públicos e outros de uso empresarial, Kelvin Millarch nos conta que esse ainda é um grande tabu quando olhamos para a arte, o teatro, e locais do nicho. Também o problema se estende aos valores que nos quais é comercializado um espetáculo. Lembra Millarch que “uma das maiores problemáticas do acesso à cultura no Brasil está relacionada a locomoção de certos públicos até em espaços cênicos. Mesmo com um espetáculo gratuito, uma família de 6 pessoas pagará quase R$70,00 para ter acesso ao teatro, e considerando a realidade financeira de muitos núcleos familiares, esse valor é quase impossível quando não se sabe se haverá alimento no prato amanhã”.
Nisso, a pauta da popularização do teatro é debate que precisa surgir afim de que esse espaço seja, novamente, dedicado a quem sempre o teatro pertenceu: o povo. “Se você tiver um bom trabalho e que o público geral possa se identificar, o teatro poderá prosperar cada vez mais. Historicamente essa arte surge do povo, pelo povo e para o povo, hoje entendemos que novas linguagens surgem e a contemporaneidade pode estar afastando o público geral do espaço cênico”, afirma Millarch.
Há a necessidade de projetos que envolvam e fomentem políticas públicas voltadas para o campo da cultura e da arte. Segundo Kelvin Millarch, “é papel do artista e do Estado proporcionarem estes mesmos espetáculos de forma descentralizada, levanto a arte de forma gratuita para regiões com menos frequência de espetáculos, sem fazer com que artistas trabalhem de graça. Nisso, entram órgãos públicos que devem atuar ativamente na cena cultural”, ressalta.
Infelizmente há uma linha divisória – não imaginária – que ainda persiste em existir não só no teatro em todos os espaços públicos que deveriam ser desfrutados igualmente por toda a comunidade. Kelvin afirma que ao observar o público presente nesses locais, a disparidade presencial de uma classe social pra outra é preocupante e triste. “Nota-se um público predominantemente de classes menos favorecidas economicamente, famílias que já tem o hábito de frequentar espaços cênicos, estudantes e outros artistas que movimentam a cena. O acesso à cultura existe, porém, a elitização não permite que chegue de forma democrática a todos”, conclui Kelvin.