Okama conta sobre a migração nipônica, violência e sexualidade através da memória afetiva Com texto de Gabriel Saito e direção de Miwa Yanagizawa, o espetáculo estreia no dia 01 de setembro no Sesc Ipiranga
Okama significa “bicha”. Em japonês esse termo é pejorativo, mas foi fundamental para que o ator, performer e dramaturgo Gabriel Saito, fluminense de ascendência nipônica, iniciasse a pesquisa acerca da sua ancestralidade.
Saito conectou a violência do processo migratório com a vivência da sua própria sexualidade, a partir da relação dos samurais com os atores do teatro Kabuki. Durante suas pesquisas, compreendeu que a história de sua família é similar a de várias outras que migraram do Japão. Muito ligado à avó,
Saito traz as memórias afetivas ao palco do Sesc Ipiranga a partir de setembro e propõe uma reflexão sobre o tema a partir da reconexão com o passado.
O Teatro e a dança Kabuki foram as peças-chave para a expansão simbólica na criação do artista que também traz para a cena coreografias dessa arte. No Japão, do período medieval até o fim do século XIX, os atores do tradicional teatro kabuki se relacionavam sexualmente com os samurais como práticas que eram comuns na sociedade.
Acessando esse elemento histórico, o espetáculo realiza várias fabulações sobre seu próprio corpo de “bicha-mestiça-nipônica”, levando ao palco uma visão singular sobre a ancestralidade. Os artistas do teatro contemporâneo têm apostado em refletir sobre a ideia de ancestralidade a partir também dos recortes raciais.
O encontro do artista com Miwa Yanagizawa na direção é outra potente interlocução ancestral. A dupla se une a partir de suas trajetórias de vida e identidades raciais e define: “Okama proporciona, para nós, um empoderamento e rompe com o constrangimento de assumir a racialidade”.
Muitos fragmentos da peça são fragmentos da vida de Miwa também. A peça é um jogo de contradição entre a presença e a ausência pela morte. O luto está em cena a partir das memórias vivas da avó do ator numa articulação entre o particular e o universal: os dilemas sociais vividos por migrantes asiáticos ao longo dos anos no Brasil e a violência e até a fome vivenciadas por famílias como os Saito quando aqui desembarcaram também são formas de abordar a morte.
O idealizador define: “A relação com a memória é uma das grandes potências no projeto. O Brasil é um país com medo da memória”. Okama produz um outro legado nesse sentido, ao celebrar, de maneira transgressora, a herança cultural nipo-brasileira.
A equipe da peça é composta por mais de 50% de artistas amarelos e a estreia não poderia ser em outro lugar senão São Paulo, que acolhe a maior comunidade nipônica no mundo fora do Japão, o que denota que essa história é muito presente na constituição da própria cidade.
Ficha técnica: Texto e atuação:
Gabriel Saito Direção: Miwa Yanagizawa Coreografias Kabuki: Fujima Yoshikoto Assistente coreografias Kabuki: Satie Hideshima Desenho de luz: Sueli Matsuzaki Cenografia: Maurício Bispo Figurino: Teresa Abreu Trilha sonora: Yugo Sano Mani Videoarte: Gibran Sirena Fotografia: Nadja Kouchi Projeto Gráfico: Pedro Leobons Supervisão de dramaturgia: Fabiano Dadado de Freitas Preparação Vocal: Camilla Flores Assessoria de imprensa: Mengucci Imprensa e Midia Produção: Corpo Rastreado Idealização: Gabriel Saito Serviço: Okama Direção: Miwa Yanagizawa Temporada: 1 de setembro a 8 de outubro