O mercado da beleza no Brasil vive um momento de reinvenção constante, impulsionado por um consumidor mais sensível à experiência, à identidade e à memória. É nesse cenário que a Dalla, marca nacional conhecida por sua comunicação jovem e estética pop, lança seu novo produto: um Lip Oil com aroma de pamonha, inspirado nas festas juninas.
O produto, além de vegano e enriquecido com manteiga de karité, possui tecnologia que reage ao pH da boca para revelar um tom exclusivo nos lábios. Mas o que chama atenção, de fato, não é a fórmula: é a proposta. A pamonha, ícone da culinária caipira e símbolo da cultura festiva brasileira, torna-se aqui um elemento de marketing sensorial, resgatando lembranças afetivas para gerar conexão com o público.
Memória afetiva como estratégia de branding
A fundadora da marca, Eliane Dalla Vecchia, explica que o produto nasceu com o desejo de unir autocuidado e emoção.
“A pamonha representa família, aconchego e brasilidade. Trouxemos isso para dentro da nossa fórmula com carinho e criatividade”, afirma.
A escolha não é aleatória. Em um mercado saturado de glosses e óleos labiais, a diferenciação sensorial e cultural pode ser um trunfo. Em vez de apostar em fragrâncias internacionais ou nomes genéricos, a marca incorpora um elemento 100% nacional, de forte apelo emocional e festivo, para ampliar o engajamento com o consumidor.
É a chamada estética da memória, uma tendência crescente nas marcas de beleza e lifestyle, que busca evocar sentimentos familiares e afetivos para gerar pertencimento e fidelização.
O lançamento chega em um momento estratégico. Segundo dados divulgados pelo portal FashionNetwork, a indústria de beleza de prestígio cresceu quase 19% em 2024, com a maquiagem liderando com alta de 26%. O pós-pandemia consolidou um novo perfil de consumo, mais voltado ao prazer, à autoestima e ao autocuidado sensorial.
Esse avanço também reflete uma valorização das marcas nacionais, que têm investido em tecnologia, criatividade e narrativas próprias, saindo da sombra dos grandes conglomerados internacionais para ocupar espaço relevante no imaginário coletivo.
A Dalla, criada em 2016, é uma dessas marcas. Em nove anos de atuação, firmou-se como referência em maquiagem acessível, vegana e conectada com as pautas da juventude urbana brasileira. O uso de lançamentos sazonais, como o Lip Oil de pamonha, reforça essa identidade de marca plural, afetiva e culturalmente enraizada.
Quando o exagero vira aposta
Se por um lado o produto flerta com a inovação e a brasilidade, por outro levanta questões sobre os limites entre a criatividade estética e o fetichismo cultural. Aromas de comida, especialmente em produtos de beleza, podem reforçar um certo exotismo ou até infantilização da estética brasileira, um debate que já atravessou campanhas passadas de outras marcas.
Contudo, no caso da Dalla, a leitura parece mais cuidadosa e sensível, alinhada a um momento em que o consumidor valoriza produtos que têm algo a dizer, ainda que em formas inusitadas. O Lip Oil de pamonha não é apenas um produto, mas uma proposta de conversa com o público: sobre afeto, tradição, identidade e beleza.
Considerações finais
A aposta da Dalla no Lip Oil de pamonha não é apenas um lançamento sazonal, é um reflexo de como o mercado nacional está entendendo que inovação não precisa, necessariamente, vir de fora. Pode vir do milho. Da roça. Do cheiro de infância.
E, principalmente, pode vir do afeto que a beleza carrega em cada detalhe.
