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Emergência climática: uma corrida contra o tempo por Roberta Alvarenga

O planeta está gritando, e a inércia coletiva intensifica a crise. Apenas 17% das metas globais dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estão no caminho certo, enquanto mais de um terço retrocedem. Segundo o último relatório da ONU sobre os ODS, o mundo inteiro está falhando em cumprir as promessas de desenvolvimento sustentável, colocando em risco o bem-estar de bilhões de pessoas.

A ONU alertou que pelo menos 575 milhões de pessoas ainda vivem em extrema pobreza, com dificuldades agravadas pelos impactos da pandemia, guerras e desastres climáticos. A desigualdade global também se manifesta no acesso à educação, saneamento e saúde, onde regiões mais pobres enfrentam retrocessos ainda maiores.

Em 2023, de acordo com o serviço climatológico europeu Copernicus, o aumento da temperatura no planeta, ultrapassou 1,5º C acima da média pré-industrial, apontando que o limite que resultará em impactos mais trágicos poderá bater um novo recorde ainda este ano ou muito em breve. No Brasil, foram emitidas 2,3 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa no último ano – o equivalente às emissões anuais de 540 milhões de carros comuns. Enquanto isso, a Amazônia registra níveis recordes de destruição, e eventos extremos como secas e enchentes continuam devastando economias e vidas.

Não é uma questão de se, mas de quando os impactos serão ainda mais devastadores. Não estamos mais falando de teorias, mas de fatos. De realidade. E o que estamos fazendo?

No dia 12 de dezembro de 2024, foi dado um passo. A Lei nº 15.042, que institui o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE) foi sancionada. Conhecida como a Lei do Mercado de Carbono no Brasil, o mecanismo de crédito de carbono permite que empresas, organizações e indivíduos compensem suas emissões, transferindo o custo social dos gases de efeito estufa para os emissores. Embora seja uma estratégia promissora para conter o aquecimento global e mitigar os impactos das mudanças climáticas, seu sucesso depende de mobilização ampla e integrada em todas as esferas da sociedade.

No entanto, as ações continuam muito aquém do necessário. Menos de 10,8% dos municípios brasileiros organizaram conferências do meio ambiente, um passo essencial para estruturar ações de mitigação, adaptação e preparação para desastres, justiça climática, transformação ecológica C governança e educação ambiente. A situação no Centro-Oeste Paulista chama a atenção.

Em outubro, o Instituto Repense revelou que, apenas 5% dos G6 municípios da região, haviam se mobilizado para realizar as conferências climáticas propostas pelo governo federal em junho. Seja por falta de conhecimento, desinteresse ou ausência de subsídios, a realidade exige ação imediata. Por isso, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, o Instituto decidiu liderar o processo e fazer acontecer.

No dia 20 de janeiro, será realizada a I Conferência Intermunicipal do Meio Ambiente do Centro Oeste Paulista – CIMA – COPǪuinze municípios participarão oficialmente da discussão sob o tema “Emergência Climática: o Desafio da Transformação Ecológica”. Esses municípios, juntos, acumularam danos materiais e prejuízos totais, que superam R$ 3 bilhões desde 1GG5, consequência direta da falta de planejamento e prevenção contra desastres naturais, segundo o Atlas Digital de Desastres no Brasil, do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR).

Esse número é mais do que alarmante. Ele transforma a crise climática em uma

bomba-relógio econômica e social.

Bomba-Relógio Econômica e Ambiental

Os R$ 3 bilhões (ou 10 toneladas de ouro) perdidos em queimadas, enchentes e secas poderiam ter financiado transformações significativas, como:

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  • 15 usinas solares de grande porte, promovendo energia limpa para milhares de residências.
  • 60 mil casas populares, garantindo moradia digna para cerca de 240 mil pessoas.
  • 30 mil sistemas de captação e tratamento de água, combatendo a escassez hídrica em regiões críticas.

Esses números não representam apenas prejuízos financeiros. Eles evidenciam nossa incapacidade de priorizar o futuro. A destruição através do dinheiro nos trouxe até aqui, mas ele pode nos ajudar enquanto ainda há tempo.

Enquanto reclamamos do calor sufocante, dos preços altos dos alimentos e dos desastres naturais, a falta de ação nos mantém presos a um ciclo de negligência.

Regiões Ricas, Respostas Insuficientes

O Brasil, com 5.56G municípios, abriga cinco regiões que desempenham papéis distintos na economia e na preservação ambiental. Juntas, as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste concentram 81,7% do PIB nacional, mas a mobilização climática reflete uma desconexão perturbadora entre riqueza e responsabilidade:

  • Sudeste: Com 53% do PIB, organizou 310 conferências climáticas (18,6% dos municípios mobilizados).
  • Sul: Contribuindo com 18,3% do PIB, realizou 1G6 conferências (16,5% dos municípios).
  • Centro-Oeste: Com 10,4% do PIB, cadastrou apenas G2 conferências

(19,7% dos municípios mobilizados).

  • Nordeste: Representando 14,2% do PIB, liderou em números absolutos com 335 conferências, mas ainda deixou 81,3% dos municípios sem mobilização.
  • Norte: Embora abrigue a Amazônia, organizou apenas 12G conferências – uma mobilização preocupante em um bioma crucial para o equilíbrio climático global.

Educação Climática: Fertilizante para o Futuro

Sem educação, continuaremos presos a um ciclo de lamentações enquanto a crise climática avança. Segundo o Sebrae, 65% das micro e pequenas empresas brasileiras desconhecem os ODS, enquanto mais de 50% não adotam práticas de gestão de resíduos sólidos.

Assim como um fertilizante revitaliza o solo, a educação capacita gestores, empodera cidadãos e estimula a inovação. Não é uma questão de custo, mas de investimento no futuro.

I Conferência Intermunicipal do Meio Ambiente do Centro Oeste Paulista – CIMA – COP

O Papel das Conferências Ambientais

As conferências, como a intermunicipal que estamos organizando, não são apenas eventos; são espaços de transformação. Elas visam reunir propostas concretas para os cinco eixos centrais da agenda climática: mitigação, adaptação e preparação para desastres, justiça climática, transformação ecológica, e governança e educação ambiental.

Essas etapas locais são fundamentais para a formulação de um novo Plano Nacional de Adaptação e Mitigação às Mudanças Climáticas (Plano do Clima),

coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente. Alinhado ao Acordo de Paris, o plano busca centralizar ações para reduzir emissões, proteger ecossistemas e adaptar o Brasil às mudanças climáticas já em curso.

Além disso, as conferências fortalecem a governança local, capacitam gestores públicos e promovem a participação ativa de cidadãos. Ǫualquer pessoa com mais de 16 anos pode participar, sugerir soluções e votar em delegados. Cada município pode apresentar até dez propostas, duas para cada eixo temático, que serão debatidas em níveis estaduais e nacionais.

Municípios participantes e Biomas:

  • Mata Atlântica, cobre áreas urbanizadas e altamente industrializadas.

**Cerrado, conhecido como “berço das águas” e crucial para a agricultura. Agudos:

  • Bioma: Cerrado e Mata Atlântica.
  • Desafios Climáticos: Poluição hídrica e urbanização descontrolada.
  • População: 38.879 habitantes (IBGE).

Álvaro de Carvalho:

  • Bioma: Mata Atlântica.
  • Desafios Climáticos: Erosão e escassez de água.
  • População: 4.896 habitantes (IBGE).

Bofete:

  • Bioma: Cerrado e Mata Atlântica.
  • Desafios Climáticos: Desmatamento e perda de fauna.
  • População: 10.688 habitantes (IBGE).

Borebi:

  • Bioma: Cerrado e Mata Atlântica.
  • Desafios Climáticos: Desmatamento e baixa disponibilidade hídrica.
  • População: 2.787 habitantes (IBGE).

Botucatu:

  • Bioma: Cerrado e Mata Atlântica.
  • Desafios Climáticos: Desmatamento, queimadas e poluição urbana.
  • População: 150.442 habitantes (IBGE).

Fernão:

  • Bioma: Cerrado e Mata Atlântica.
  • Desafios Climáticos: Desmatamento e fragmentação florestal.
  • População: 1.689 habitantes (IBGE).

Garça:

  • Bioma: Mata Atlântica.
  • Desafios Climáticos: Erosão do solo e escassez hídrica.
  • População: 43.115 habitantes (IBGE).

Guarantã:

  • Bioma: Mata Atlântica.
  • Desafios Climáticos: Perda de biodiversidade.
  • População: 6.531 habitantes (IBGE).

Iacanga:

  • Bioma: Cerrado e Mata Atlântica.
  • Desafios Climáticos: Desmatamento e erosão.
  • População: 10.633 habitantes (IBGE).

Itatinga:

  • Bioma: Cerrado e Mata Atlântica.
  • Desafios Climáticos: Desmatamento e queimadas.
  • População: 19.427 habitantes (IBGE).

Lençóis Paulista:

  • Bioma: Cerrado e Mata Atlântica.
  • Desafios Climáticos: Poluição industrial e desmatamento.
  • População: 68.395 habitantes (IBGE).

Lucianópolis:

  • Bioma: Cerrado e Mata Atlântica.
  • Desafios Climáticos: Erosão e degradação do solo.
  • População: 2.419 habitantes (IBGE).

Lupércio:

  • Bioma: Cerrado e Mata Atlântica.
  • Desafios Climáticos: Desmatamento e queimadas.
  • População: 4.017 habitantes (IBGE).

Macatuba:

  • Bioma: Cerrado e Mata Atlântica.
  • Desafios Climáticos: Escassez hídrica e poluição do solo.
  • População: 17.120 habitantes (IBGE).

Pardinho:

  • Bioma: Cerrado e Mata Atlântica.
  • Desafios Climáticos: Deslizamentos e erosão.
  • População: 7.382 habitantes (IBGE).

Pederneiras:

  • Bioma: Cerrado e Mata Atlântica.
  • Desafios Climáticos: Inundações e poluição hídrica.
  • População: 46.223 habitantes (IBGE).

Impacto da I CIMA-COP: Aproximadamente 500 mil habitantes

O evento será realizado de forma online, com participação e transmissão gratuita pela plataforma Zoom.

Link para inscrição e participação:

Saiba como participar em www.institutorepense.org ou inscreva-se diretamente através do formulário de Inscrições https://forms.gle/JSzKaLUN757EwfD16 . Para mais informações, acesse o site do evento, cadastrado no Ministério do Meio Ambiente:

https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/processes/cnma/f/130/meetings/860

Contato para patrocínio e mais informações:

Whatsapp +55 14 99703-2025 ou do email [email protected]

Instituto Repense é uma organização sem fins lucrativos dedicada à promoção da sustentabilidade e à implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Com base no lema “Pensar Global, Agir Local”, o Instituto lidera iniciativas que conectam comunidades, governos e empresas na busca por soluções práticas e transformadoras para os desafios climáticos e sociais.

A conferência faz parte das etapas preparatórias para a 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, reforçando o compromisso com o Plano Nacional de Adaptação e Mitigação às Mudanças Climáticas.

Fontes:

Relatório AMCHAM

https://estatico.amcham.com.br/arquivos/2024/09/pesquisa/pesquisa-amcham- financiamento-sustentavel.pdf

IBGE CIDADES

https://cidades.ibge.gov.br

The Sustainable Development Goals Report – 2024

https://unstats.un.org/sdgs/report/2024/The-Sustainable-Development-Goals- Report-2024.pdf

Sebrae

https://cms.mt.sebrae.com.br/storage/sites/e50b7e84-deb0-483b-823b- eacbbeaa586a/document//660e5139-5a7c-4c41-bda2-6e0684d2be03.pdf

Thiago Michelasi

Thiago Michelasi é jornalista, assessor de imprensa e apresentador de TV. Atualmente é CEO do Tô Na Fama!, portal parceiro de conteúdo do IG e apresentador do Programa Tô Na Fama! em afiliadas da Rede TV!. Além disso é colunista no Cartão de Visita do R7, no IG Gente, no Meia Hora e de diversos outros portais além de já ter sido colunista também no Observatório dos Famosos do UOL. Siga Thiago Michelasi no Instagram: instagram.com/thiagomichelasi
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