O mercado imobiliário norte-americano tem sofrido com a disparada no valor dos imóveis. De acordo com os últimos dados da S&P CoreLogic Case-Shiller Índices, o país atingiu o maior patamar de encarecimento dos imóveis dos últimos 35 anos — em média, o valor de mercado das habitações subiu 20,6% em relação à base anual.
De acordo com João Souza, empresário do setor e especialista em mercado e investimentos imobiliários na Flórida, o principal problema dos Estados Unidos em relação à habitação atualmente é a escassez gerada pela alta demanda e pouca oferta, o que aumenta não apenas o preço dos imóveis, mas também dos aluguéis, causando uma disparidade habitacional.
“Após o derretimento do mercado causado pela incerteza da pandemia, houve um incentivo ao crédito muito grande e baixa taxas de juros, impulsionando a compra de imóveis. A migração das pessoas para estados com menor custo de vida também mexeu com os preços. Isso, sem contar a questão política, visto que, com a maioria dos estados do norte elegendo democratas, houve uma migração interna de republicanos, em especial para a Flórida”, explica.
Entretanto, nesse mesmo cenário, houve a diminuição no ritmo da construção de empreendimentos, bem como da oferta. De acordo com João Souza, entre as cidades que mais sofrem com o cenário estão Nova York, São Francisco e Miami. “Há quem defenda, inclusive, que o cenário atual pode desencadear uma crise como a que aconteceu em 2008”, pontua.
A exemplo disso, um estudo da Harvard Joint Center for Housing Studies destaca que, com a pandemia, a compra de casas atingiu o patamar mais alto desde o boom imobiliário em 2006, que antecedeu a crise que viria dois anos depois. “Em média, o estadunidense precisa desembolsar 33% da renda para adquirir um imóvel atualmente”, diz.
Efeitos da pandemia a longo prazo
Para o expert João Souza, o preocupante cenário que se vive hoje ainda é um reflexo dos piores momentos da pandemia. “Quando a covid-19 foi anunciada como uma calamidade em termos de saúde, muitas pessoas, guiadas pelo medo, colocaram seus imóveis à venda, o que aumentou a oferta, claramente deixando um ‘GAP’ entre oferta e demanda. Com isso os preços dos imóveis cada dia estavam mais reduzidos, pois todos estavam buscando liquidez nesse momento”, explicou João Souza.
Houve também algumas reações por parte também das construtoras, pois empresas do ramo estavam oferecendo um bônus elevado e muitos atrativos para poderem liquidar seus estoques rapidamente. “Quem entende um pouco do mercado imobiliário sabe que o principal problema de ficar com muito estoque são os custos fixos que consomem o fluxo de caixa das construtoras e, consequentemente, atrapalham principalmente a relação entre custo versus oportunidade”.
À medida que a população foi entendendo a pandemia, a situação foi se desenrolando até o momento atual e houve o efeito reverso: o aumento da demanda. “No caso da Flórida, onde atuo, houve um crescimento na imigração para esse estado, o que aqueceu o mercado. Atualmente, o que se vive é o crescimento nos valores, que veio acompanhada de uma expectativa muito grande, aumentando a especulação imobiliária”, resume.