O impacto de Ainda Estou Aqui na última temporada do Oscar marcou uma verdadeira virada na forma como Hollywood enxerga o público brasileiro. Em visita ao Festival do Rio, nesta sexta-feira (3/10), o CEO da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, Bill Kramer, declarou que o engajamento dos fãs do Brasil com o filme e com Fernanda Torres foi algo “nunca visto antes”.
“Durante o Governors Awards, em novembro, publicamos uma foto da Fernanda nas redes sociais e tudo simplesmente explodiu. Nunca tínhamos visto nada parecido. Foram milhões de curtidas, comentários e mensagens em português. Foi histórico”, afirmou Kramer em entrevista ao O Globo.
Segundo ele, o envolvimento do público brasileiro superou até o alcance digital do Super Bowl e do Grammy, dois dos maiores eventos de entretenimento do mundo. “O amor e o apoio que recebemos do Brasil foram impressionantes. A forma como o público se mobilizou, acompanhando a cerimônia, celebrando nas ruas e até interrompendo o carnaval para assistir à premiação, foi algo emocionante”, declarou.
O sucesso nas redes refletiu no resultado da premiação. Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, fez história ao conquistar o Oscar de Melhor Filme Internacional, o primeiro da história do Brasil, além de render uma indicação inédita de Melhor Atriz para Fernanda Torres. “O movimento certamente chamou a atenção dos votantes. A paixão dos fãs foi decisiva para colocar o filme no radar da Academia”, reconheceu o executivo.
Kramer também destacou o papel de Walter Salles na construção dessa nova imagem do cinema brasileiro no exterior. “Walter é um diretor extraordinário, com uma carreira de décadas dedicadas ao cinema global. Ele é um amigo da Academia e será homenageado com o Luminary Award, no próximo dia 18 de outubro, durante a Academy Museum Gala em Los Angeles”, adiantou.
Desde a vitória de Parasita (2020), a Academia tem implementado políticas de diversidade, ampliando o número de votantes internacionais. Atualmente, 20% dos mais de 11 mil membros vivem fora dos Estados Unidos, sendo cerca de 200 latino-americanos e 60 brasileiros.
Durante sua passagem pelo Rio, Kramer participou de um jantar promovido pela Globo, que reuniu grandes nomes do cinema nacional, como Regina Casé, Dira Paes, Rodrigo Santoro, Leandra Leal, Walter Carvalho e a atriz francesa Juliette Binoche. “Fernanda é uma artista excepcional e uma pessoa maravilhosa. Tivemos uma conversa incrível no último Oscar — foi uma noite memorável”, relembrou o CEO.
A próxima cerimônia do Oscar está marcada para 15 de março de 2026, com apresentação de Conan O’Brien. Kramer diz esperar que o entusiasmo brasileiro continue refletindo na audiência e nas futuras premiações. Sobre os novos representantes do país, o executivo evita favoritismos, mas demonstra animação: “O cinema brasileiro vive um momento vibrante. Estou muito curioso para ver O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho”.
Com o reconhecimento global de Ainda Estou Aqui, o Brasil consolida um novo capítulo na história do cinema mundial — e, como define Kramer, “um dos momentos mais emocionantes e transformadores já vividos pela Academia”.
