
O que acontece quando um coletivo teatral de uma das maiores favelas de São Paulo decide documentar 13 anos de luta, arte e transformação social? A resposta está no livro “Impacto Agasias Grupo de Teatro: 13 anos a trocar experiências nas artes de “sobreviser” identitariamente. Produção Teatral criada com/em uma comunidade luz.“, uma obra de 236 páginas escrita pelos pesquisadores Alexandre Mate e Carolina Angrisani. O livro mergulha nos bastidores de como se faz teatro de resistência em Heliópolis, revelando estratégias de sobrevivência cultural que desafiam as estatísticas sociais impostas à periferia. O livro foi lançado oficialmente em agosto de 2025, na Casa Cultural Alcântara Sampaio, atual sede do Grupo, marcando não apenas uma celebração da sua trajetória, mas também um marco na documentação do teatro periférico brasileiro.
A publicação, que tem tiragem de 600 exemplares e distribuição gratuita, foi contemplada pela 42ª edição do Programa de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. Apresenta uma metodologia única de trabalho comunitário que tem chamado a atenção de pesquisadores e gestores culturais em todo o País. Mais do que uma biografia de grupo teatral, a obra documenta como jovens da periferia transformaram limitações em potencialidades criativas. O livro revela processos inéditos de criação coletiva, estratégias de engajamento comunitário e metodologias de formação artística que nasceram da necessidade de “sobreviver identitariamente” – um conceito criado pelo próprio grupo que mistura sobrevivência e supervivência cultural.
Os integrantes do Grupo refletem sobre a importância do livro para consolidar sua história e relembrar tudo que já passaram e viveram para chegar até aqui, inclusive uma inundação em um dos espaços que abrigou sua sede, que quase destruiu todo o acervo do Impacto Agasias. Wallace Borges e Henrique Sanchez são os cofundadores do coletivo, que também contou com a entrada do artista pesquisador Lucas Becerra, há cinco anos, liderando as ações de comunicação. A bagagem dos três inclui, além da própria formação em teatro, especializações que passam pelo teatro de rua, música, dramaturgia, produção e direção.
Com depoimentos exclusivos de integrantes, colaboradores e moradores de Heliópolis, a publicação oferece um retrato íntimo de como políticas públicas efetivas podem gerar transformações sociais duradouras, servindo como referência para jornalistas interessados em pautas sobre cultura periférica, políticas culturais e inovação social. A publicação chega em momento estratégico, quando debates sobre democratização cultural e descentralização de recursos ganham força na agenda pública nacional.
Para jornalistas que cobrem cultura, políticas sociais ou movimentos periféricos, o livro oferece dados, análises e casos práticos que podem embasar reportagens sobre os impactos reais do investimento em cultura comunitária. O exemplar que está sendo enviado para sua redação contém material exclusivo que pode render múltiplas pautas: desde perfis dos artistas-pesquisadores até análises sobre o retorno social do investimento em coletivos culturais periféricos, passando por metodologias inovadoras que podem inspirar políticas públicas em outros territórios do Brasil.
Sobre o Grupo de Teatro Impacto Agasias
Fundado em 2011 da fusão de dois grupos teatrais de escolas públicas, o Impacto Arte e o Agasias, o coletivo surgiu da necessidade urgente de jovens periféricos serem ouvidos e de fazer arte que dialogue com suas realidades. O nome “Agasias”, de origem grega, significa “digno de ser admirado”, uma definição que espelha perfeitamente o compromisso do grupo com a valorização de histórias e identidades periféricas.
O Grupo de Teatro Impacto Agasias torna-se, então, um coletivo multiartístico com sede em Heliópolis, zona sul de São Paulo. Ao longo de mais de uma década de pesquisa em teatro, desenvolveu uma produção artística marcada pela coletividade, pela escuta e pelo vínculo com a comunidade, tornando-se referência nacional em teatro periférico e resistência cultural. O trabalho do Impacto Agasias transcende o palco, funcionando como uma ferramenta de educação, comunicação e transformação social. “O teatro é uma grande ferramenta de educação, comunicação e trabalho desde muitos anos, pois através dos seus gêneros ele agrada todo tipo de público, dos mais jovens aos mais velhos“, explica Wallace, um dos co-fundadores do coletivo.
Ao longo de sua existência, o Impacto Agasias construiu um repertório impressionante de espetáculos premiados e reconhecidos por todo o Brasil, que reflete a diversidade e a riqueza cultural de Heliópolis: “No Ritmo da Realidade” (2011) foi a primeira produção, que abordava a temática LGBTQIAPN+; “Santo Cristo – Faroeste Caboclo” (2012-2016), inspirado na icônica canção da Legião Urbana; “A Lenda Sumiu!” (2015)”, espetáculo infanto-juvenil que resgata valores do folclore e da cultura popular brasileira; “Dandara” (2017)”, livre adaptação de “A Megera Domada” com empoderamento feminino; “Cidade do Sol – uma homenagem à menina luz” (2020), documentário cênico contemplado pela terceira edição do Programa de Fomento à Cultura da Periferia, “Fubá – uma receita para o tempo” (2022), que nasceu da 5ª edição do Programa de Fomento à Cultura da Periferia e “Programa Akáshico [peça jogo]” (2025), espetáculo construído pela pesquisas da 42ª edição da Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, onde o espectador se torna peça fundamental para a construção do espetáculo por meio de um aplicativo de celular, dentre outros.
Em 2021, após dez anos de trajetória, o grupo concretizou um sonho antigo: a abertura da Casa Cultural Alcântara Sampaio, seu próprio espaço cultural em Heliópolis. Nomeada em homenagem ao educador Pedro Alcântara e à preparadora corporal Marcela Sampaio, figuras fundamentais na formação do coletivo, a Casa se tornou um ponto de encontro para artistas e comunidade. Nela também vivem Dandara, Fubá, Sol e Santo Cristo, gatinhos adotados pelo Grupo que ganharam, não por acaso, os nomes de alguns dos principais projetos apresentados. Também é possível, num espaço que lembra “casa de vó”, como eles mesmos se referem à Casa, tomar um bom café com bolo. Impossível não se encantar e desejar voltar aonde todas as pessoas (e até os gatinhos) são sempre muito bem-vindas! (É lá também que acontecem as oficinas, saraus, intervenções, pesquisas, ações e espetáculos).









