
Ao longo dos anos, seja por causas naturais ou históricas, algumas cidades muito importantes entraram em um cenário onde o tempo não passa: embaixo da água. Lugares como a vila de Derwent, na Inglaterra, que ficou submersa pela construção do reservatório Ladybower; Baiae, na Itália, que era uma cidade romana engolida pelo movimento do solo, tornando-se um sítio arqueológico subaquático; e Thonis-Heracleion, no Egito, que afundou no Mediterrâneo após um terremoto.
Um outro exemplo que ficou conhecido não só por essa característica e pelos aspectos que obrigaram os habitantes a procurarem outros métodos de sobrevivência, como também por suas belezas, foi a cidade de Halfeti, um assentamento na província de Sanliurfa, no sudeste da Turquia. Os meios de evolução na região se sofisticaram a ponto de construírem restaurantes e cafés flutuantes que funcionam como um chamariz de turistas, que, por sua vez, se locomovem com os barcos.
Localizada às margens do rio Eufrates, relativamente próxima à nascente, a cidade teve seu destino alterado em 2000, após a construção da represa de Birecik, com 60 metros de altura e 2,4 km de largura. Duas dessas cidades e dez vilarejos menores foram completamente submersos, e mais de 6.000 moradores tiveram que ser realocados. Entre eles, 2.600 habitantes, que representavam 40% de Halfeti, foram engolidos pela água.
A barragem foi construída em um esforço para desenvolver a região sudeste da Anatólia, já que a usina hidrelétrica gera cerca de 2.500 GWh (gigawatts-hora) por ano, o suficiente para abastecer quase um milhão de lares turcos. Seu reservatório, com cerca de 52 quilômetros quadrados, foi projetado para irrigar 70 mil hectares de terras agrícolas. Porém, o plano não seguiu como idealizado, e muitas casas de pedra, lojas e boa parte da mesquita central desapareceram.
Hoje, a cidade segue buscando impulso principalmente pelo turismo, e uma das coisas que mais chama a atenção é a famosa rosa preta. Cultivadas nas redondezas, reza a lenda que Halfeti é o único lugar que privilegiadamente desabrocha esse tipo de flor, que, segundo especialistas, não é verdadeiramente preta, mas de um tom de bordô profundo ou, neste caso, um vermelho muito escuro que parece ainda mais intenso quando queimado pelo sol.
Acredita-se ainda que a coloração esteja relacionada às condições únicas do solo da região. Atualmente, diversos visitantes lotam a chamada “cidade submersa” para circular pelas construções alagadas em barcos, jet skis e até flyboards. O mergulho também se tornou uma atividade popular para os curiosos que buscam saber como as ruínas estão e como o lugar se parecia.
Escrito por Kethelyn Rodrigues, supervisionada por Henrique Souza.









