
Embora “shibari” signifique literalmente “amarrar” em japonês, o termo passou a representar algo mais simbólico a partir do final do século 20, sendo associado a uma prática de cunho erótico. Vinculado ao universo do BDSM (sigla para bondage, disciplina, dominação, submissão, sadismo e masoquismo), o shibari se consolidou como uma arte de conexão corporal e emocional, na qual o uso de cordas cria uma experiência intensa de entrega e confiança entre os participantes.
No Love Cabaret, a apresentação, que faz parte da grade desde da abertura do espaço, em 2023, ganha contorno artístico e crítico e já se tornou uma das mais marcantes. A performance é conduzida por Akira Nawa, artista e educadora referência de Shibari no Brasil. Em cena, o que se vê é um ritual estético e emocional entre duas pessoas — quem conduz as amarrações e quem se entrega a elas. Com movimentos cuidadosos, as cordas desenham formas no corpo, tensionando a pele, suspendendo membros e, por vezes, todo o corpo no ar, em uma coreografia de entrega e tensão.
Segundo León Franz, diretor artístico da casa, o Shibari deixou de ser apenas um elemento visual para ocupar o centro da cena, como gesto, linguagem e diálogo com o público. “A proposta não é apenas apimentar o olhar, mas provocar reflexão sobre os corpos, seus limites e as formas de prazer que envolvem entrega, cuidado e presença”, comenta Franz.
Ao trazer o Shibari para a cena performática, o Love Cabaret não se apropria da técnica de forma decorativa. Pelo contrário: as apresentações nascem de um processo minucioso de estudo, escuta e preparação, respeitando os princípios da prática, sobretudo o do consentimento e o público consegue traduzir esse sentimento. “A reação do público sempre surpreende. Há quem chore, quem se emocione, quem fique inquieto — tudo ao mesmo tempo”, relata o diretor artístico.
O Love Cabaret nasceu com a proposta de ser um espaço disruptivo em uma celebração aos corpos e narrativas que não se encaixam ao padrão. As intervenções artísticas são uma união de performance e elementos de som e jogos de luzes que são um convite para o público desfrutar de novas conexões e vivências, sempre no campo do espetáculo. Cada edição é única, com números que se intercalam e artistas convidados. A introdução do Shibari como parte estrutural do show amplia essa proposta e insere no palco um universo ainda pouco explorado sob a ótica da arte contemporânea.
“Ao invés de espetacularizar o fetiche, o espetáculo o desloca. O que está em cena é o afeto, a tensão, o jogo de poder mediado pela escuta. No Love Cabaret, tudo que envolve o corpo e também a linguagem” finaliza León Franz.









