
Aos 33 anos, Bruno William Farias de Mattos tem feito do tatame um território de transformação social. Campeão mundial de jiu-jitsu, faixa-preta de judô, pedagogo e professor da rede pública paulistana, ele foi homenageado em 2024 por sua contribuição ao esporte educacional e pelo impacto social de seus projetos voltados a crianças com deficiência e jovens em situação de vulnerabilidade.
As honrarias reconhecem não apenas os títulos esportivos acumulados ao longo dos anos, mas principalmente o trabalho silencioso realizado nas periferias da capital paulista. O primeiro reconhecimento veio em novembro de 2023, com um certificado da Liga Paulista de Lutas Associadas (LPLA), destacando os “relevantes serviços prestados e os elevados gestos de humanidade e solidariedade à população paulistana através do esporte”.
Já em dezembro de 2024, Bruno recebeu nova homenagem, agora por suas conquistas no ano: vitórias nos campeonatos mundiais, expansão do projeto CDC Ipasure e contribuições significativas na formação de jovens atletas com deficiência.
Do tatame à sala de aula
A história de Bruno com as artes marciais começou aos 12 anos, incentivado pela mãe. De lá para cá, ele construiu uma carreira marcada pela dedicação à educação e à inclusão. É formado em Educação Física pela Universidade de Santo Amaro (UNISA) e em Pedagogia pelo Centro Universitário Ítalo Brasileiro. Essa formação embasa seu trabalho em projetos sociais e escolas da rede pública e privada.
Faixa-preta 1º Dan de judô pela Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e 2º Dan pela LPLA, Bruno também atuou como professor em instituições como o Colégio Miguel de Cervantes, EMECE e Claritas. Nesses espaços, aplicou a metodologia de ensino desenvolvida pelo judoca olímpico Tiago Camilo, voltada ao atendimento de crianças neurodivergentes.
Projetos inclusivos na periferia
Em paralelo à carreira esportiva, Bruno fundou o projeto CDC Ipasure, na zona sul de São Paulo. A iniciativa oferece aulas gratuitas de judô e jiu-jitsu para mais de 250 crianças e adolescentes, com foco especial em alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), TDAH e deficiências múltiplas.
O projeto vai além da prática esportiva. A metodologia inclui acompanhamento escolar, reforço de valores como respeito e ética, e exigência de bom comportamento dentro e fora do tatame. “A medalha é deles. Meu papel é só abrir a porta”, afirmou Bruno durante uma cerimônia promovida pela LPLA.
Reconhecimento que vai além das medalhas
Em 2023, Bruno conquistou o título de campeão mundial de jiu-jitsu com kimono e o vice-campeonato mundial No-Gi, ambos promovidos pela Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu Olímpico (CBJJO). As conquistas consolidaram seu nome entre os atletas de elite do país. Ainda assim, para ele, o verdadeiro reconhecimento vem da transformação de vidas.
“Ganhar títulos é importante, mas ver um aluno com TDAH aprender a se concentrar ou um jovem da periferia ganhar autoestima por meio do esporte é a maior vitória que posso ter”, resume o professor.
Educação além das artes marciais
Bruno também atua como professor de Educação Física na rede municipal de ensino em São Paulo. Em suas escolas, desenvolveu projetos interdisciplinares que envolvem rádio escolar, xadrez e futsal. Com alunos da periferia, conquistou títulos como o de Campeão Municipal de Futsal e Campeão Regional de Xadrez. Alguns desses estudantes, inclusive, conseguiram bolsas de estudo em instituições particulares graças ao desempenho escolar e esportivo.
Com uma trajetória que une medalhas, diplomas e transformações humanas, Bruno William prova que o esporte, quando aliado à educação, pode ser uma poderosa ferramenta de inclusão social.










