Coluna Tiago da Silva Candido

Segurança Digital e Privacidade: O Papel do Celular na Era da LGPD

Em uma sociedade cada vez mais digitalizada, o número de celular deixou de ser apenas um meio de comunicação para se tornar uma das principais portas de entrada para a vida online. Seja para acessar o banco, confirmar uma compra, fazer login em redes sociais ou autenticar documentos digitais, o telefone celular hoje é utilizado como chave de verificação de identidade — e isso tem implicações diretas quando falamos sobre privacidade e segurança de dados.

A aprovação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), em 2018, representou um marco importante no Brasil, colocando o país entre os que reconhecem o direito à privacidade como fundamental. A legislação impôs regras claras sobre como empresas devem coletar, tratar e armazenar dados pessoais — o que inclui, entre outras informações, o número de telefone.

Embora o objetivo da LGPD seja garantir transparência e segurança para os usuários, ela também impôs grandes responsabilidades para empresas de diversos setores — incluindo as operadoras de telefonia. Afinal, são elas que administram uma das informações mais sensíveis e amplamente utilizadas: a linha telefônica pessoal de cada cidadão.

No Brasil, operadoras como Claro, Vivo, TIM e Oi precisaram revisar profundamente seus protocolos internos para se adequar às exigências da nova lei. Isso envolve desde a forma como os dados são coletados e armazenados até o modo como são compartilhados com terceiros, passando por treinamentos de equipes, investimentos em infraestrutura e revisão de contratos com parceiros.

A Claro, por exemplo, informou que tem investido constantemente em políticas, processos e procedimentos voltados à privacidade e à segurança da informação, em conformidade com a LGPD. Segundo a operadora, essas iniciativas têm contribuído para prevenir ataques e evitar fraudes que poderiam comprometer os dados de seus clientes. A empresa também destacou a implementação de políticas internas que fortalecem esse controle e reduzem vulnerabilidades.

Essas ações são fundamentais em um contexto onde o golpe do SIM swap (quando criminosos transferem o número de celular da vítima para outro chip) e a clonagem de linha se tornaram estratégias comuns em fraudes digitais. Ao obter acesso ao número de telefone de uma pessoa, criminosos conseguem interceptar mensagens de texto com códigos de autenticação, redefinir senhas de acesso e até movimentar contas bancárias.

Nesse cenário, o papel das operadoras vai além de fornecer sinal e conectividade. Elas se tornaram guardiãs de um dado que hoje funciona como identidade digital. Por isso, é fundamental que ofereçam canais seguros de atendimento, mecanismos de bloqueio imediato em caso de suspeita de fraude e protocolos rígidos para validação de identidade em qualquer processo que envolva a linha telefônica.

Muitos usuários, ao perceberem atividades suspeitas em suas contas digitais, recorrem aos canais oficiais de suporte. Saber, por exemplo, o número da Claro ou de outra operadora se torna essencial para agir rapidamente em situações de emergência, como perda de acesso, portabilidade não autorizada ou clonagem do chip. Nesse sentido, manter os contatos atualizados e conhecer os canais de atendimento é um passo básico, mas importante, para a segurança pessoal.

Além disso, a LGPD prevê que o titular dos dados tem o direito de acessar informações sobre como seus dados são utilizados, podendo solicitar a exclusão ou correção de registros. Operadoras e demais empresas que utilizam o número de telefone como parte do processo de autenticação devem garantir esse acesso de forma clara e funcional — algo que nem sempre ocorre com a agilidade esperada.

Apesar dos avanços, ainda há um caminho a percorrer. Muitos consumidores desconhecem seus direitos em relação ao uso de seus dados e, frequentemente, aceitam termos de uso e políticas de privacidade sem entender completamente o que está sendo autorizado. Por isso, a educação digital continua sendo um ponto-chave para que a população possa se proteger e cobrar posturas mais responsáveis das empresas.

Ao mesmo tempo, é necessário reforçar que a segurança não é responsabilidade exclusiva das operadoras ou plataformas digitais. O próprio usuário também deve adotar boas práticas: ativar a autenticação em dois fatores com aplicativos, evitar clicar em links suspeitos, não compartilhar códigos recebidos por SMS e ficar atento a sinais de atividade incomum no aparelho.

A privacidade, em um mundo mediado por algoritmos e redes, é uma construção coletiva. E o número de telefone, tão simples à primeira vista, carrega hoje uma função crítica: ser a ponte entre o mundo real e o digital. Proteger essa ponte — e os dados que ela carrega — é essencial para garantir a segurança e a liberdade dos cidadãos na era da informação.

Tiago da Silva Candido

Colunista de portais como Correio Braziliense, Tonafama, F5 online e Imprensa e Midia e mais 1500 sites.
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