A partir de 13 de outubro você está convidado a passar as noites de domingo na companhia da família de Mirinda (Regina Casé) e se divertir com as ideias mais inusitadas para conseguir pagar o boleto da vez. Nesse lar que falta dinheiro, mas sobra amor e união, as filhas Mari (Luana Martau), Ina (Heslaine Viiera) e Nana (Valentina Bandeira), junto da neta Belinha (Heleninha Repertório), fazem o possível e o impossível para ajudar a provedora em um novo trabalho a cada episódio, e assim conseguir a quantia necessária para pagar o boleto da vez.
Criado por Regina Casé e Jorge Furtado, ‘Tô Nessa!’ é um sitcom com presença de plateia, participações e convidados musicais, formato que abre espaço para o improviso e a comunicação de Regina com o público – uma das principais vertentes de sua carreira. O cenário circular foi criado pelo diretor Fabrício Mamberti com o cenógrafo Pedro Equi e funciona como arena invertida, com a plateia no centro e os ambientes em volta, proporcionando maior proximidade do público com o elenco e o desenrolar das situações. Presente no cenário durante os episódios, a banda ‘Faz um Pix’, liderada pelo cantor Feyjão, além de animar a plateia, faz toda a sonoplastia da obra e a trilha musical.
O programa traz Regina Casé de volta à comédia e também conta com nomes experientes no humor como Luana Martau e Valentina Bandeira. Duas apostas que a atriz e criadora trouxe para o ‘Tô Nessa!’ fazem sua estreia como atores na TV: o influenciador digital Dan Mendes, que vive a vizinha fofoqueira Darley; e Ju Amaral, irmã do saudoso Paulo Gustavo, que interpreta a ranzinza Muricy, dona do imóvel onde a família mora. Ao longo dos 11 episódios o programa terá participações de nomes com bagagem na comédia como Evandro Mesquita, Lázaro Ramos e Katiuscia Canoro, além de participações musicais, entre elas os cantores Xande de Pilares, Roberta Miranda e Natanzinho Lima – que também interpreta um personagem no primeiro episódio.
O desafio da cenografia e produção de arte com o cenário circular
O cenário, que proporciona uma relação inovadora entre a plateia e o espetáculo – onde o público fica no centro e a cena acontece ao redor –, trouxe uma dinâmica diferente para o trabalho das equipes de cenografia e produção de arte. O cenógrafo Pedro Equi explica que o primeiro passo foi entender como esse formato de cenário, iniciativa do diretor artístico Fabricio Mamberti, se comportaria no espaço físico do estúdio destinado a abrigar o programa. “Quando comecei a fazer os croquis percebi que o grande desafio seria a disposição dos ambientes e angulação das paredes de forma que atendessem visualmente a plateia, mas que também permitissem os enquadramentos de câmera desejados .A ideia foi “quebrar” o cenário acompanhando a circunferência, percebendo quais profundidades e ângulos funcionavam para os dois propósitos”, explica.
A partir daí a equipe concluiu que a plateia deveria se sentar em uma cadeira giratória para acompanhar todas as cenas de perto. “Percebemos que a movimentação da plateia deveria ser individual e permitir o giro de 360 graus no eixo, dessa forma o próprio espectador direciona o acento para onde quer olhar”, revela. O cenário abriga cinco cômodos da casa em que Mirinda (Regina Casé) vive com as filhas e a neta – sala com cozinha integrada, quarto de Mirinda, em que ela dorme com a neta Belinha (Heleninha Repertório), quarto das filhas Mari (Luana Martau), Ina (Heslaine Vieira) e Nana (Valentina Bandeira), banheiro, pátio e também a fachada da casa de Darley (Dan Mendes), além de uma praça onde ficam os músicos da banda Faz um Pix. Todos os ambientes impressionam pela vivência realista e destalhes minuciosos nos cômodos e na decoração. “A principal intenção é que, apesar do formato teatral, os enquadramentos sejam retratos realistas, de forma a colocar o espectador em total entendimento do universo que queremos representar”, pontua Pedro Equi.
A trama se passa em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense do Rio, mas todo o subúrbio carioca foi usado como principal fonte de inspiração. “Adotamos revestimentos cerâmicos não apenas no piso, mas também em paredes. Usamos os padrões tradicionais do subúrbio como o caquinho e cerâmicas geométricas. Para as portas e esquadrias buscamos o ferro, grades e também alumínio. Fizemos um certo esforço para encontrar peças vividas, com desgaste, para mostrar o tempo dessa casa, onde a família vive há mais de 25 anos. Fizemos uma mistura de revestimentos antigos e parte da casa já reformada com soluções mais atuais e buscamos diversidade nas peças porque temos uma residência onde vivem cinco mulheres com personalidades totalmente distintas”, completa.
O trabalho de produção de arte buscou fugir das referências que costumam ser usadas em programas de humor, especialmente devido ao cenário em 360 graus. “Geralmente nos programas de humor a intenção é que os objetos de cena provoquem o riso imediatamente, por serem grandes ou pequenos demais, ou muito coloridos e divertidos na primeira olhada. Montamos um cenário voltado para a dramaturgia, a equipe brincava que era um “dressing” de novela. Isso faz também com que seja corroborado esse olhar de 360 graus de continuidade. Os personagens atravessam os sets, vão da sala para a cozinha, da cozinha para o quarto, do quarto para a área de serviço. Então o objeto precisa ser real. E precisa fazer sentido nesse olhar de 360 graus da própria plateia que está ali assistindo e não só para o espectador que está em casa”, revela a produtora de arte Alda Gonçalves.
Para trazer mais realidade possível aos ambientes, a equipe de produção de arte trabalhou em Duque de Caxias. “Fizemos uma pesquisa bem prolongada. Mais do que visitar Caxias, fomos produzir lá. Andamos nos calçadões do município e também andamos pelo subúrbio do Rio. Fomos a Madureira e a Vigário Geral, que tem a Praça 2, um lugar maravilhoso para fazer compras. E também buscamos extrair ideias do próprio olhar da Regina Casé, que tem amigos em todo o Rio de Janeiro. É magnífico ver que um pano de prato que a gente comprou em Caxias causa um efeito na Regina. A surpreendemos com vários “easter eggs” espalhados pelos cenários. Em um dos episódios vestimos um vidrinho de adoçante com um vestidinho de crochê, e uma das discussões que tivemos quando estávamos conceituando o programa é que ela trazia muito esse olhar das coleções, tudo coberto de crochê ou de um paninho, que traz uma vivência e uma mistura de coisas antigas com os boletos das coisas novas que as personagens vão adquirindo. Ao mesmo tempo as personagens têm um olhar antenado para o que está na moda no momento”, conta a produtora.
Os camisões do figurino e a criatividade da caracterização
Em ‘Tô Nessa!’, Mirinda (Regina Casé) veste camisões estampados com rostos de pessoas que o programa deseja homenagear, ou alguma figura que remeta ao tema do episódio. Entre as pessoas homenageadas, Ana Maria Braga e Preta Gil. Segundo a figurinista Claudia Kopke, a ideia surgiu por conta de uma camisa com o rosto de Alcione que Regina Casé comprou. “O figurino da Mirinda passou por várias provas de roupa, mas o que vingou mesmo foram essas camisas estampadas”, revela.
O figurino das filhas de Mirinda exigiu bastante pesquisa, pois cada uma tem uma característica de personalidade muito marcante. Ina (Heslaine Vieira) é que mais tem variações, pois está sempre com um visual diferente. “Ina é a nossa boneca, troca de figurino e cabelo a cada episódio. É a personagem mais colorida e mais cheia de acessórios. A que investe em si mesma. Nossa inspiração são as blogueiras”. Já para compor o figurino de Nana (Valentina Bandeira), que cultua a cultura pop japonesa, a maior parte das referências veio do próprio texto do sitcom. “Quando eu tinha alguma dúvida recorria ao meu filho, Luc, que ama o Japão e é nerd como a personagem. Por coincidência, estive com ele no Japão este ano, então a memória do que vi nas ruas ainda estava fresca. Com o Shunji (Pedro Ogata) fui nessa mesma linha, já que os personagens se espelham um no outro”, conta a figurinista. Outro figurino que promete chamar atenção é o de Darley, a vizinha interpretada por Dan Mendes. Ela usa macacões coloridos e uma camiseta de malha na cabeça, marca de personagens que o influenciador criou nas redes sociais. “Conversei com o Dan e entendemos que Darley é uma continuidade de Dirce e Deyse, mas ela é ruiva”, revela.
Responsável pela caracterização dos personagens, Dayse Teixeira buscou a identificação do público, já que a família de Mirinda tem características bem brasileiras. “Cada personagem vive uma realidade próxima de algum grupo de pessoas. O desafio foi caracterizar esses personagens de forma que o público se reconheça nas figuras da Mirinda, Nana, Ina…”, explica Dayse. Para Ina o trabalho foi mais intenso – é um visual novo a cada episódio. “Ela sempre quer causar uma impressão diferente, mostrar que é antenada e isso reflete em seu visual. A Ina busca arrumar um namorado rico, ser famosa, então procura sempre estar mais bonita. Ela investe em diferentes cabelos, maquiagens e looks para cada situação. Em um dos episódios, usa uma peruca rosa com a raiz escura. Acredita que esse visual vai viralizar nas redes, junto com uma dança que ela criou. A maquiagem nesse episódio também é monocromática, tudo em tons de rosa”, exemplifica.
Um visual que também promete chamar a atenção é o da própria Mirinda, que traz Regina Casé com cabelos cacheados. “A Regina queria algo bem diferente de suas últimas personagens. Decidimos por um cabelo enrolado com tons de dourado, que trouxe essa mudança mais radical que ela buscava. As pessoas nem a estão reconhecendo na rua e era isso que queríamos. O conceito que desenvolvemos para a Mirinda partiu da ideia de uma mulher batalhadora, mas com um toque jovial porque ela busca acompanhar as filhas, quer ser moderna”, conceitua.
Para a personagem de Valentina Bandeira, que ao contrário do restante da família não se preocupa com a aparência, Dayse Teixeira decidiu criar sardas no rosto. “Achei que combinava com a Nana, uma jovem despreocupada com a aparência, sem vaidade. A sarda traz essa ideia de naturalidade, como se ela não ligasse para esconder imperfeições. O cabelo é inspirado no visual de animes japoneses, com corte desconectado e cor esverdeada, usamos uma tinta especial”, conta.
Já o visual de Mari (Luana Martau), a filha mais velha de Mirinda, destoa do restante por ser um estilo mais tradicional e romântico. “Fizemos algumas mechas loiras no cabelo dela, mas sem seguir as últimas tendências. As mechas são mais grossas, marcadas, com um tom loiro mais amarelado, diferente das mechas finas e sutis que estão em alta. Ela é romântica e desligada, vive no próprio mundo, e não se importa muito com o que está na moda. A maquiagem é natural e usa esmalte em tons rosados, bem suaves, para combinar com seu estilo romântico. Ela também gosta de usar lencinhos no cabelo para dar um toque delicado”, completa.
Entrevista com a criadora e protagonista Regina Casé
Atriz, autora, diretora, produtora e apresentadora, Regina Casé tem 50 anos de carreira e coleciona trabalhos de grande destaque. Esteve recentemente no cinema com ‘Dona Lurdes – O Filme’, no qual interpreta uma de suas personagens mais carismáticas, a mãezona Dona Lurdes, da novela ‘Amor de Mãe’ (2019). Regina é reconhecida até hoje nas ruas – dentro e fora do país – por sua interpretação única de Tina Pepper, da novela ‘Cambalacho’ (1986). Integrou o elenco do humorístico ‘TV Pirata’ (1988), um dos mais inovadores do audiovisual, e esteve à frente de produções importantes da TV como ‘Programa Legal’ (1991), ‘Brasil Legal’ (1995) , ‘Muvuca’ (1998), ‘Um Pé de Quê?’ (2000) e ‘Esquenta’ (2011). No cinema, o filme ‘Que Horas Ela Volta?’ (2015) rendeu a Regina grandes condecorações, entre elas a de ter sido eleita melhor atriz no Festival de Sundance, nos Estados Unidos. Nas telonas, Regina também foi destaque em ‘Eu, Tu, Eles’ (2000), recebendo vários prêmios. Seu trabalho mais recente na televisão foi como a vilã Zoé, em ‘Todas as Flores’ (2022).
Em ‘Tô Nessa!’ você volta a fazer comédia, depois de muitos anos. É um movimento que estava buscando?
Eu adoro assistir programas de humor e fazer comédia. Comecei a trabalhar na TV com humor. Estava com saudade de fazer um texto engraçado, estava precisando muito. Os últimos trabalhos que eu fiz, as novelas ‘Todas as Flores’ e ‘Amor de Mãe’, e também ‘Dona Lurdes – O Filme’ tinham toques de humor, mas eram personagens dramáticos. Comédia rasgada mesmo eu não fazia desde ‘TV Pirata’, exibido no final da década de 1980 e início dos anos 1990. Um dia decidi ligar para o Jorge (Furtado) e falei: Jorge, você quer fazer um projeto para rir, comédia mesmo, escrachada? E ele falou que também estava com vontade, que tinha várias ideias em mente. O nome da minha personagem, Mirinda, era de um papel para outra série que ele estava querendo fazer, sobre um outro tema. E ele disse: você podia fazer a Mirinda. A partir daí o projeto do ‘Tô Nessa!’ nasceu, eu também já tinha um monte de ideias que juntamos e começamos a trabalhar.
E como surgiu a ideia de falar de uma família de mulheres que batalha para pagar os boletos?
Foi devido a um censo que saiu dizendo que, pela primeira vez, a maioria das famílias brasileiras são providas por mulheres. Muitas vezes pela avó, porque tem a sua aposentadoria. Isso mexeu comigo e o Jorge e quisemos falar de uma família de mulheres. E também trazer essa realidade atual de muitas pessoas não terem uma única profissão, precisam se reinventar em atividades diferentes. Tô nessa agora, mas semana que vem posso estar em outra, o que estiver dando mais certo no momento. Além disso, todo mundo tem saudades de programas como ‘A Grande Família’ e do ‘Sai de Baixo’. Quisemos trazer um pouco desses e de várias outras atrações de humor, de cada uma o ‘Tô Nessa!’ tem um pouquinho, mas não parecemos com nenhuma delas.
Conte um pouco sobre a Mirinda e a relação dela com as filhas e a neta.
Uma coisa interessante é que eu venho da Dona Lurdes, que é o estereótipo da mãezona, e ela ficou muito querida pelo público. A Mirinda surpreende porque ela é apaixonada pela família, cuida da família, mas detesta cozinhar, lavar louça, ela quer terminar aquilo rápido, quer ir para o samba, quer se divertir, gosta de tomar a cervejinha dela. A Mirinda é super amorosa com a família, mas do jeito dela. É uma mulher cheia de manias e opiniões também, características muito próprias. A cada episódio, vive uma urgência de se reinventar com um trabalho diferente para conseguir pagar os seus boletos. E consegue, graças à inteligência, energia, coragem, força empreendedora, sempre com a ajuda das filhas e da neta. As relações com cada uma delas é diferente, porque elas têm personalidades bem distintas, mas todas são muito amorosas. Essa família emana muito amor.
No ‘Tô Nessa!’ você também consegue trabalhar seu talento como comunicadora, já que há interação com a plateia. Como está sendo voltar a fazer isso, mas em outro formato, com dramaturgia?
Está sendo apaixonante. Eu gosto de improvisar em cena com o público presente. Antes de começar a gravação com plateia, já estou conversando com as pessoas e tem um prólogo no início de cada episódio. Quando começo a gravar as cenas, já estou envolvida com as pessoas, já cantamos músicas, elas já tão rindo. Mas está sendo um desafio também, esse formato que une dramaturgia com plateia e banda é novo para mim, para o Jorge (Furtado), o Fabricio (Mamberti) e o elenco.
E como está sendo a experiência de atuar e ao mesmo tempo ser criadora do projeto, contribuir com o roteiro? Como foi o processo de trabalho antes do início das gravações?
Muita coisa nesse trabalho é nova para mim. Eu não conhecia ninguém da sala de roteiro que o Jorge (Furtado) montou. E foi uma grata surpresa, a sintonia entre nós foi imediata. A gente ria muito criando os textos e de cara me senti à vontade para dar uma ideia que sabia que poderia ser ruim (risos). Quando começamos a ensaiar com o elenco, senti que estava entrando para um grupo de teatro, porque o elenco é muito caloroso, muito vivo. Eu também nunca tinha trabalhado com ninguém desse elenco e desde o começo foi incrível. Isso me deu um frescor, um ânimo a mais. Em toda a gravação eu chego meio sem saber como vai ser, no que vai dar. E é um trabalho e um desafio muito maior do que imaginávamos. Gravamos o equivalente a quatro capítulos de novela em um único dia. A gente faz quase dois longas por semana, é uma maluquice (risos), mas que está dando muito certo e estão todos muito felizes.
Você também participou da escalação do elenco e trouxe Dan Mendes e Ju Amaral para o ‘Tô Nessa!’. É uma característica sua buscar novos talentos, o que te chamou atenção nos dois para trazer para esse projeto?
Eu era muito fã do Dan na internet, participei do especial de Natal dele e já fui a apresentações que ele faz. Quando começamos o ‘Tô Nessa!’ mostrei trabalhos dele para o Jorge (Furtado) e para a Patricia (Pedrosa, diretora de gênero Humor), que acharam muito engraçado. Ele é muito talentoso e também tem esse lado autoral, contribuiu na criação dos roteiros da série. Com a Ju Amaral foi a mesma coisa, eu admirava o talento dela para o humor. O Paulo Gustavo sempre falava que ela era mais engraçada que ele, que as histórias ficavam mais engraçadas quando era a Ju quem contava. Eu me lembro de um aniversário do Paulo em que metade das histórias que ele ia contar, ele falava, vai Juliana, conta você, porque ele morria de rir dela. E acho que ele tinha, como eu também, pena de ver um talento e uma força como a dela ainda muito escondidos. Um dia, numa festa, a gente ficou dançando, brincando, e fazendo uma ceninha. Eu pensei: tenho que abrir essa concha de qualquer jeito, porque o público está perdendo e ela também. Ter trazido O Dan e a Ju para o sitcom tem um significado muito grande para mim e um ganho para o produto, eles estão arrebentando.
O que o público pode esperar do ‘Tô Nessa!’?
O ‘Tô Nessa!’ vai ser exibido em um horário que a gente está buscando coragem para começar mais uma semana e uma segunda-feira. A gente está sempre pensando, amanhã eu tenho que fazer isso, tenho que fazer aquilo. Se é criança ou jovem, pensa que tem prova ou que não fez o dever de casa. O ‘Tô Nessa!’ chega para dar esse gás, pegar o espectador no colo e dizer, bora, mais uma semana, vai dar certo. Você vai dar seu jeito, vai pagar seu boleto. É um empurrão para a semana começar bem, aquele trampolim pra levantar o astral mesmo. De um jeito muito engraçado, para rir bastante, e ao mesmo tempo, de um jeito gostoso e amoroso, porque domingo você geralmente está com sua família toda em casa, vendo televisão naquele horário. É uma energia muito amorosa que o programa pretende trazer.
Entrevista com o criador e roteirista final Jorge Furtado
Jorge Furtado é diretor e roteirista. Sócio da produtora Casa de Cinema de Porto Alegre, realizou diversos longas como ‘Houve Uma Vez Dois Verões’ (2002), ‘O Homem que Copiava’ (2003), ‘Meu Tio Matou Um Cara’ (2005), ‘Saneamento Básico, O Filme’ (2007), ‘O Mercado de Notícias’ (2014), ‘Real Beleza’ (2015), ‘Quem é Primavera das Neves’ (2017), ‘Rasga Coração’ (2019) e ‘Vai Dar Nada’ (2021), além de curtas premiados como ‘Ilha das Flores’ (1989) e ‘Esta Não é a Sua Vida’ (1991). Esteve à frente de séries como ‘Cena Aberta’ (2003), ‘Decamerão’ (2010) e ‘Doce de Mãe’ (2014), vencedora de dois prêmios Emmy Internacional. Escreveu dezenas de especiais e séries para a TV Globo, como ‘Agosto’ (1991), ‘Memorial de Maria Moura’ (1993), ‘A Comédia da Vida Privada’ (1995), ‘Mister Brau’ (2015), ‘Sob Pressão’ (2017) e ‘Todas As Mulheres do Mundo’ (2020). Recentemente escreveu com Guel Arraes o longa ‘Grande Sertão’, em cartaz nos cinemas este ano. Seu trabalho mais recente é o longa-metragem ‘Virgínia e Adelaide’, com Yasmin Thayná.
Como surgiu a ideia de falar sobre pagamento de boletos? O tema dinheiro, inclusive, é retratado em muitos trabalhos seus, como os longas ‘O Homem que Copiava’ e ‘Saneamento Básico, o Filme’. Os episódios de ‘Tô Nessa!’ tem como fio condutor situações para cumprir uma meta financeira específica. O que o motiva a falar sobre dinheiro?
Não sei bem o porquê, mas a dramaturgia tem um certo pudor ou tabu de falar em dinheiro. As pessoas nas novelas, nas séries, nunca dizem qual seu salário, ou quanto ganham por um trabalho, quanto custam as coisas. Mas a vida real das pessoas é totalmente baseada no dinheiro, estamos o tempo todo lidando com isso, falando sobre isso e pagando boletos. O dinheiro é fundamental na vida diária. Em ‘Tô Nessa!’ as personagens falam sobre dinheiro abertamente, preciso de 600 reais, ganhei tanto, tenho tanto etc. Isso acontece dentro de uma história de humor afetivo, em que as personagens se ajudam, e tem momentos emocionantes.
Como está sendo escrever para a Regina Casé atuar? Vocês têm uma parceria longa, desde o ‘Programa Legal’ no início dos anos 1990…
Regina não fazia comédia rasgada desde ‘TV Pirata’, há mais de 30 anos. A conheço desde os tempos do Asdrúbal Trouxe o Trombone (grupo teatral da década de 1970), ela é uma brilhante atriz de comédia. Está sendo bom tê-la de volta no gênero, ainda mais em um programa com plateia. Regina é uma das pessoas no Brasil com maior poder de comunicação e interação com o povo, de falar com uma pessoa e se interessar pelo que ela tem a dizer, conversar e tirar histórias curiosas. Ela tem esse viés jornalístico e realmente se interessa no que aquela pessoa está falando, presta atenção, gosta desse contato com a pessoas. Eu acompanho isso há muito tempo. No teatro, quando ela fazia ‘Nardja Zulpério’, que foi um sucesso enorme no final dos anos 1980 e começo de 1990, ela ia para o meio da plateia, ficava um tempão conversando com as pessoas, e depois voltava ao palco para continuar a peça.
O texto dos episódios de ‘Tô Nessa!’ é muito conectado com o universo digital, tão presente nos dias de hoje. Como você se mantém atualizado?
Primeiro, muita pesquisa na equipe de roteiristas. Além de mim, temos o Marcelo Gonçalves, o Bernardo Guilherme, a Nathalia Cruz, que tem vivências diferentes. O Marcelo e o Bernardo têm muita experiência, fizeram ‘A Grande Família’, começaram no ‘Chico Anysio Show’, há muito tempo, e fizeram ‘Mister Brau’ comigo. Eles são muito experientes em estrutura de comédia. A Nathalia é uma influenciadora, super ligada nas coisas que estão acontecendo hoje. É muito sensível e bem-humorada. Além dos roteiristas, a gente pega muita coisa nos ensaios, nas leituras dos próprios atores, porque eles também têm vivência. A Valentina Bandeira além de atriz é uma influenciadora, temos o Pedro Ogata, que faz o Shunji, um garoto de18 anos, que gosta desse universo de games como o personagem. Ele me disse uma frase que na hora pensei: vou incluir de qualquer maneira no roteiro. O Dan Mendes, que é de Duque de Caxias como as personagens, também trouxe contribuições para o roteiro, a gente fez quase um texto inteiro a partir de uma ideia que ele contou de Caxias.
Na sua opinião, a internet mudou a forma de escrever?
Mudou porque hoje todo mundo tem uma câmera e uma TV no bolso. Então isso muda a dramaturgia. Por exemplo, tem uma cena em que a Mari (Luana Martau) entra em casa dizendo, mãe, você colocou o quarto para alugar? Ela entra em casa dizendo isso porque já está no grupo de mensagens da família. A Mirinda fala umas coisas desatualizadas e o jeito de as filhas alertarem para não dizer isso, é que irão cancelar a mãe se ela falar em público. A gente precisa fazer o possível para ligar a dramaturgia com essas situações da internet, o fato de todo mundo estar sempre online muda o jeito de escrever.
Quais referências você se inspirou para escrever os textos de ‘Tô Nessa!’? E de que forma é um programa inovador?
A televisão mundial começou com os sitcoms familiares. ‘Papai Sabe Tudo’, ‘I Love Lucy’, ‘Família Trapo’. Quando eu era criança, o país parava para ver Ronald Golias, Renata Fronzi, Jô Soares. Era a família Trapo que passava aos domingos, e toda a família assistia. Eu assistia com meus pais, meus irmãos mais velhos, todo mundo se sentava. ‘A Grande Família’ foi um grande sucesso, criado na década de 1970, que foi refeito nos anos 2000. O ‘Sai de Baixo’ é menos referência para o ‘Tô Nessa!’, mas é um pouco por ser um programa feito com plateia, onde o riso de alguma maneira influencia, tem uma cara de ao vivo. A família sempre se renova e a história que contamos é da família de hoje. O conceito do programa é inovador pelo cenário circular, com a plateia no meio, e por juntar essa turma do elenco. A inovação na dramaturgia se dá muitas vezes por encontros. É um sitcom com público, com música, com um time de atores bem diverso e majoritariamente feminino. Dessa forma é um programa que ainda não havia sido feito e isso nos motivou bastante.
A música tem forte presença no sitcom, com uma banda fixa, a ‘Faz um Pix’. Por que essa escolha e como é o trabalho de inserir a banda na dramaturgia?
A grande arte do Brasil é a música e na música brasileira sempre surgem talentos novos. Essa família que retratamos gosta muito de samba, e usar a música para embalar foi uma ideia que a gente teve logo do início, com participações especiais de músicos e a banda do Feyjão, que conta com músicos incríveis. Eu acho que no domingo à noite, para encerrar a semana, com uma história que tem momentos de ternura, românticos, não é só piada, a música compõe muito bem. Ela embala emocionalmente uma cena, a cena se constrói em torno da música, então a gente tem grandes músicos disponíveis e estamos aproveitando na série. A banda permite a troca maior com o público, aumenta a interação no programa.
O que o público pode esperar do ‘Tô Nessa!’?
O público pode esperar o inesperado, porque nunca houve um programa como esse, ele é totalmente diferente. É um sitcom com uma história com começo, meio e fim, mas tem música, tem plateia, tem uma banda. São muitas novidades para o público e para nós todos. Estamos aprendendo enquanto fazemos. Esse risco de experimentar uma coisa totalmente nova está motivando todo mundo. A gente está muito empolgado em saber o que vai acontecer. E nas primeiras gravações percebemos que a gente acertou. Esperamos que para o público também.
Entrevista com o diretor artístico Fabricio Mamberti
Diretor de TV e cinema, Fabricio Mamberti iniciou sua carreira em 1988 como produtor de cinema e publicidade. Em 1992, estreou como diretor em Portugal, nas redes SIC e RTP. Na TV Globo desde 1995, atuou na direção de diversas novelas, séries e seriados, como ‘Pecado Capital’ (1998), ‘Força de Um Desejo’ (1999), ‘Porto dos Milagres’ (2001), ‘Chocolate com Pimenta’ (2003), ‘Páginas da Vida’ (2006), ‘A Vida da Gente’ (2011), ‘Deus Salve o Rei’ (2018) e ‘Fuzuê’ (2023), entre outros projetos. Em 2011, foi indicado ao Emmy Internacional, na categoria Art Programming, pelo programa ‘Por Toda a Minha Vida – Adoniran Barbosa’. Na área de Variedades, implementou os programas ‘Encontro com Fátima Bernardes’, ‘TV Xuxa’ e, no ‘Fantástico’, realizou o talent show ‘Como manda o figurino’. Fabricio assina, ainda, a direção artística da primeira e segunda temporada de ‘As Five’, série Original Globoplay – spin-off de ‘Malhação: Viva a Diferença’, novela premiada pelo Emmy Kids na categoria Melhor Série, em 2019.
Conte como desenvolveu o projeto do cenário circular com plateia no centro, que permite maior interação?
Quando soube que o ‘Tô Nessa!’ seria uma dramaturgia com plateia, eu pensei em como inovar dentro de um formato que já tem tantos projetos realizados no mundo todo. Percebi que o diferencial seria pensar de uma maneira diferente o cenário. A primeira informação que precisava saber era quantos ambientes tinham no texto. E num primeiro momento tinham muitos ambientes. Então propus ao Jorge (Furtado), termos menos ambientes, para que eu pudesse pensar num tipo de cenografia que abraçasse todos os cenários, sem ter mutação. Estava sendo pensado em montar um cenário para uma gravação e depois em outro, e com a diminuição dos ambientes e a entrada do cenógrafo Pedro Equi, que é um grande parceiro, ficou viável montarmos todos os cenários e deixar fixos no estúdio. Virou um auditório 360 graus, um cenário circular que eu chamo arena invertida, onde o público fica no centro, e os ambientes em volta. Em ‘Tô Nessa!’ o cenário acabou sendo um personagem, já que temos o público e a banda como personagens, o cenário também passa a ser.
Como está sendo trabalhar com Regina Casé e Jorge Furtado, você conta que era um desejo antigo…
O Jorge Furtado é uma referência gigantesca na minha carreira. Eu comecei a trabalhar com direção porque assisti a um curta-metragem dele, ‘Ilha das Flores’. Eu tinha 17 anos e estava indo para a Europa estudar hotelaria, mas o filme mexeu tanto comigo que eu desisti e fui fazer cinema. Logo na sequência já estava trabalhando em curtas e longas. Desde então eu passei a frequentar muitos festivais, e fui vendo toda a produção do Jorge, ele é uma inspiração. Eu fui diretor de ‘Mister Brau’, que tem roteiro dele, mas quem fazia a ponte com o texto era o diretor-geral Maurício Farias, não tínhamos tanto contato. Diretamente, esse é o primeiro projeto que eu estou trabalhando com o Jorge e estou muito honrado com essa parceria. Já a Regina é uma pessoa quase da minha família. Ela chegou a se hospedar na minha casa quando eu era pequeno, ela mesma me contou essa história. Mas eu lembrava dela lá em casa porque tinha uma presença muito marcante. Meu pai (o ator e diretor Sérgio Mamberti, já falecido) levou o pessoal do Asdrubal (Trouxe o Trombone) para ficar um tempo em nossa casa. Quando a Regina ia para São Paulo ela ficava lá em casa, mas a gente nunca se encontrou profissionalmente. Sempre tive um lado afetivo muito forte com a Regina, uma vontade de trabalhar com ela. E quando a Patricia Pedrosa (diretora de gênero Humor) me disse que eu estaria nesse projeto, pensei: caramba, finalmente vou conseguir trabalhar com a Regina.
O que o público pode esperar do ‘Tô Nessa!’?
O público pode esperar situações muito inesperadas, nesse tema que é tão presente nas nossas vidas, o pagamento de boletos. O inusitado está na maneira com que a Mirinda (Regina Casé) orquestra e organiza o pagamento desses boletos. A Mirinda é uma usina nuclear de criação, a criatividade dela em criar projetos como empreendedora envolvendo a família vai trazer uma marca muito forte. Quando ela fala tô nessa, o público já vai falar junto em casa, estamos nessa! Estamos vindo com uma família de mulheres, uma realidade muito presente hoje no Brasil. São mulheres fortes, diversas entre si, acredito que a individualidade e a personalidade de cada personagem são grandes ativos do programa.
Perfil dos personagens – ‘Tô Nessa!’
Mirinda (Regina Casé) – É a mãe provedora. Mãe de Mari (Luana Martau), Ina (Heslaine Vieira) e Nana (Valentina Bandeira), avó de Belinha (Heleninha Repertório). Com espírito jovem e empreendedor, se aventura nos mais diferentes trabalhos para conseguir dinheiro. Adora pagode e cerveja.
Mari (Luana Martau) – Filha mais velha de Mirinda (Regina Casé), da relação com Jorge Washington (Evandro Mesquita). Mari casou cedo, teve uma filha, Belinha (Heleninha Repertório), de 10 anos, separou-se e voltou a morar com a mãe. Ela quer entrar no mercado de trabalho, o que não é fácil para uma mulher de 35 anos sem experiência. Para atingir seus objetivos, faz todos os tipos de cursos online que encontra. É romântica, busca sua alma gêmea.
Ina (Heslaine Vieira) – Filha de Mirinda com Timbal (Lázaro Ramos), um baiano que ela conheceu no carnaval de Salvador. Ina é uma “it girl”, lança tendências, sabe tudo sobre o universo pop, música, dança, moda, maquiagem, cabelo e adora uma promoção. Ela é muito exigente, busca um namorado perfeito e, como ele não existe, está sempre com um diferente.
Nana (Valentina Bandeira) – Filha de Mirinda e Jorge Washington (Evandro Mesquita), após uma reconciliação. Nana é nerd, investe em criptomoedas, sabe tudo das últimas novidades do mundo digital. Ninguém entende muito bem o que ela faz, mas ajuda a pagar as contas. É fã de games e de cultura japonesa.
Belinha (Heleninha Repertório) – Filha de Mari (Luana Martau) e xodó da família, principalmente da avó Mirinda (Regina Casé). Muito inteligente e sagaz. Adora futebol e música.
Muricy (Ju Amaral) – É a proprietária ranzinza da casa onde moram Mirinda (Regina Casé) e as filhas. Aparece de vez em quando para cobrar o aluguel ou verificar as condições de preservação do imóvel. Muricy é carente, e se derrete quando se percebe parte da família, que sempre aposta nesse ponto fraco para negociar as dívidas do aluguel.
Darley (Dan Mendes) – Vizinha fofoqueira de Mirinda (Regina Casé), aparece sempre na janela da casa já no meio dos assuntos, que estava acompanhando sem que ninguém percebesse. Segue as filhas de Mirinda nas redes sociais e aparece para contar o que elas andam postando. Sabe de tudo o que está acontecendo na vizinhança.
Shunji (Pedro Ogata) – Melhor amigo de Nana (Valentina Bandeira), e apaixonado por ela. Sabe tudo sobre a cultura japonesa, games e tecnologia.
‘Tô Nessa!’ é um sitcom criado por Regina Casé e Jorge Furtado, com roteiro de Jorge Furtado, Regina Casé, Marcelo Gonçalves, Bernardo Guilherme e Nathalia Cruz. A produção é de Juliana Kalil e a produção executiva de Claudio Dager. A direção artística é de Fabricio Mamberti e a direção de gênero, de Patricia Pedrosa.