Desde muito cedo, Layonnara entendeu que sua trajetória seria feita de desafios e superações. Nascida em Vitória, Espírito Santo, e criada numa pequena cidade de Minas Gerais, ela vivenciou de forma dura o preconceito social e escolar, a ponto que aos 12 anos abandonou os estudos após repetidas situações difíceis na escola. O ambiente hostil e a falta de acolhimento deixaram marcas profundas, mas também despertaram nela um desejo que hoje volta a florescer em um sonho de cursar jornalismo e se tornar referência na internet.“As professoras me levavam pra casa pra eu não ser tão exposta e eu precisei parar de estudar”.
Se reconhecendo como uma mulher trans desde muito nova, aos 14 anos foi forçada a buscar nas ruas uma forma de sobrevivência. A prostituição surgiu não como escolha, mas como única alternativa diante da falta de oportunidades, e Layonnara relembra com sinceridade as dificuldades da época. As barreiras vinham não só da sociedade, como também de dentro da própria comunidade de travestis, onde havia disputas por espaço nas ruas.“Já fiz programa por 10 reais pra sobreviver, e se eu não pagasse o ponto, era repreendida. Não era só chegar e trabalhar”.
Foi em 2019 que Layonnara encontrou na internet um novo caminho para sua voz. Começou a compartilhar, com coragem e vulnerabilidade, a rotina de uma mulher trans trabalhando na noite. Os vídeos simples, porém autênticos, ganharam repercussão e o público cresceu, e aos poucos ela foi conquistando espaço. Hoje, são mais de um milhão de seguidores no Instagram e quase meio milhão no Kwai.
“Eu mostrava minhas dificuldades diárias, como era difícil ficar ali enfrentando uma realidade que era presente na vida de muitas pessoas”.
Mesmo com a visibilidade, o preconceito nunca deixou de ser um obstáculo. As marcas resistem em vinculá-la a campanhas, e Layonnara sente na pele o apagamento midiático que afeta muitas pessoas trans. Ainda assim, ela segue produzindo conteúdos que inspiram e orientam seguidores, especialmente mulheres, sobre autoestima e relacionamento, e plataformas como Privacy e OnlyFans também se tornaram fontes de renda.
“As páginas de fofoca só compartilham a travesti quando ela tá morta ou machucada. Eu mereço ter a oportunidade de terminar a escola, de ser informada e de ser uma pessoa como qualquer outra”.
Atualmente, Layonnara celebra uma conquista pessoal que representa muito mais do que um teto, com a conquista da sua casa e, dessa maneira, os sonhos continuam, pois ela planeja lançar uma música e se preparar para o Enem. Depois de concluir o ensino médio este ano, seu foco é ingressar na faculdade de jornalismo. “Meu maior orgulho é que saí das ruas e hoje eu tenho onde morar. Sempre quis estudar, mas o preconceito me impediu e agora eu quero ter a minha voz ainda mais forte”.
Com esperança e determinação, Layonnara segue em frente, levando sua história como bandeira. Sua frase de vida resume bem a força que carrega:“Nunca desistir. A dificuldade sempre vai ter, mas a gente tem que ter esperança que amanhã é outro dia”.
