A Marcha das Margaridas, que ocorrerá nos dias 13 e 14 de agosto em Brasília (DF), é a maior ação conjunta de mulheres trabalhadoras da América Latina. Realizada pela primeira vez em 2000, a mobilização homenageia Margarida Maria Alves, um símbolo da luta pela igualdade de direitos para as mulheres do campo.
Na década de 1980, a assembleia do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba, era frequentemente preenchida por camponeses insatisfeitos com as condições de trabalho. Longas jornadas nos canaviais, baixa remuneração e trabalho infantil eram comuns. O ambiente de revolta era dominado por homens, mas a presidência do sindicato era ocupada por uma mulher, a combativa Margarida Maria Alves. Mesmo após 36 anos de seu assassinato, seu legado ainda é lembrado com admiração.
Maria da Soledade Leite, que conviveu com Margarida, descreve-a como uma mulher forte e corajosa, que enfrentou uma luta ferrenha contra os latifundiários e a opressão dos trabalhadores. A sindicalista buscou direitos como a contratação com carteira assinada, o pagamento do décimo terceiro salário, e a educação para os filhos dos trabalhadores, além de combater o trabalho infantil no corte de cana. Margarida movia mais de cem ações trabalhistas contra a Usina Tanques, a maior do estado da Paraíba na época.
Além de sua luta pelos direitos trabalhistas, Margarida promoveu a alfabetização de adultos, criando um programa de educação com métodos de Paulo Freire dentro do sindicato. Luzia Soares Ferreira, uma das educadoras do programa, lembra que Margarida era dedicada à causa da educação e trabalhou incansavelmente para melhorar a vida dos trabalhadores.
A resistência de Margarida enfrentou crescente oposição e ameaças, mas ela permanecia firme. No entanto, sua vida foi cruelmente interrompida em 12 de agosto de 1983, quando foi assassinada por matadores de aluguel a mando de fazendeiros da região. O crime continua impune, mas seu legado é perpetuado pela Marcha das Margaridas, que mobiliza milhares de mulheres a cada dois anos.
Margarida Maria Alves também foi eternizada no poema de Soledade:
“Dia 12 de agosto, Nasceu um sol diferente Um aspecto de tristeza O sofrido ao invés de quente Era Deus dando sinal Da morte de um inocente (…) Sabemos que Tiradentes foi morto e esquartejado Jesus Cristo deu a vida para redimir o pecado Margarida deu a vida em prol dos sacrificados.”
Edição: Geisa Marques