
Quando Mário Leonardi decidiu seguir carreira na odontologia, ele não sabia ao certo onde seus passos o levariam. Filho de advogada e neto de um profissional respeitado da endodontia latino-americana, o jovem Mário viu-se, ainda na adolescência, diante de escolhas que moldariam seu futuro, tanto profissional quanto pessoal. “Com 16 anos eu fiz um teste vocacional e deu Direito, e nessa época eu tentava fugir da endodontia por causa do meu avô, que era muito forte. Mas minha mãe concordava que advocacia não tinha nada a ver comigo”.
Apesar de tentar se afastar do que o futuro, um pouco mais tarde, lhe revelaria, foi o próprio avô quem o aconselhou a fazer uma especialização em endodontia. A decisão o levou de Foz do Iguaçu a Curitiba, onde cursou odontologia na Universidade Federal do Paraná, e depois a São Paulo. O cenário era de longas jornadas, insegurança e uma renda que mal cobria o básico. “Eu pegava metrô, trem, ônibus. Trabalhava em uma clínica popular e atendia de segunda a segunda. Obviamente minha mãe ficou preocupada e, para piorar, o bairro onde eu trabalhava apareceu como o mais perigoso de São Paulo no Jornal Nacional, e dias depois aconteceu uma tragédia, na qual eu poderia ter sido a vítima dentro da clínica”.
Essas experiências o fizeram considerar abandonar a profissão, mas foi a resiliência que falou mais alto. Ele concluiu a especialização e ingressou em um mestrado na USP, instituição que descreve como transformadora. “Eu pensava em fazer um curso técnico, já que o salário era melhor do que o que eu ganhava com a odontologia na época. Porém, na USP eu conheci pessoas incríveis, é a melhor faculdade de odontologia do mundo”.
Durante o mestrado, montou sua própria clínica e firmou parceria com a doutora Patrícia Guimarães. A partir desse ponto, também começou a lecionar e a expandir sua atuação com cursos pelo Brasil, consolidando-se como professor e palestrante. O ápice do reconhecimento veio com o convite para palestrar na Rússia, e ainda assim, os maiores orgulhos de Mário vão além do prestígio. “Um professor brasileiro é aplaudido de pé na Rússia? Isso foi incrível. Tenho muito orgulho de ter saído da bolha, de ter criado uma escola de pós-graduação. Isso é realização”.
A pandemia de COVID-19 foi mais um ponto de inflexão e uma virada de chave, pois, sem poder trabalhar presencialmente, ele se adaptou com um curso online. Foi aí que, ao mesmo tempo, recebeu o convite para fundar um centro educativo em João Pessoa, o Mário Leonardi Instituto de pós-graduação em Odontologia. “Foi uma aposta, mas hoje a escola cresce e me exige tempo, fazendo com que eu já tenha ficado 18 dias no Nordeste e 12 dias viajando. Casei em janeiro, então agora o foco é também a família”.
A didática e o contato humano continuam sendo a alma do seu trabalho. E, quando perguntado sobre seus planos para os próximos anos, ele deixa claro que está aberto a novas áreas e que, além de envolver seus planos atuais no papel, procura sair da caixinha e colocá-los em prática. Leonardi também compartilha conselhos valiosos para os novos profissionais e vê a odontologia, sobretudo a endodontia, como uma missão que transcende o técnico. “O segredo do sucesso é simples: estudar e tratar cada paciente como se fosse a sua mãe, pois estamos lidando com uma das piores dores do mundo e isso afeta diretamente a saúde geral. É uma questão de saúde pública”.
Um marco em sua trajetória foi a parceria com o SBT, onde, por 10 anos, transformou sorrisos em programas televisivos. “A gente atendia pessoas que não tinham condições nem de comprar uma escova de dente, era uma missão social. Vi pessoas saindo chorando de alegria por conseguirem sorrir novamente”.
De uma juventude desafiadora nos bairros periféricos de São Paulo até os palcos internacionais, Mário Leonardi construiu uma trajetória inspiradora. Seu exemplo de persistência, humanidade e compromisso com a educação serve de guia para toda uma geração que, como ele um dia, busca seu lugar no mundo.